Ao longo dos últimos anos a comunicação social tem noticiado recorrentemente episódios de ativistas climáticos que desfiguram obras de arte como uma forma de protesto para chamar a atenção dos governos para as calamidades climáticas.
A National Gallery em Londres vivenciou em 2022, uma ação direta do grupo ambientalista “Just Stop Oil”, onde manifestantes atiraram sopa de tomate sobre o quadro “Girassóis” de Vincent Van Gogh para destacar as suas preocupações com a crise climática. Escolheram esta obra de arte para se referirem aos acontecimentos causados pela seca na Europa, uma das maiores nos últimos 500 anos, com dois terços do continente em perigo devido à falta de precipitação, à seca, às ondas de calor e aos incêndios florestais, que afetam diariamente as culturas, as populações e a disponibilidade dos recursos às populações.
Já em 2024, o mesmo movimento reivindicou igualmente uma ação de vandalismo nas famosas pedras Stonehenge, em Wiltshire, Inglaterra, onde pulverizaram o monumento megalítico com um pó laranja. Os ativistas foram detidos.
No mesmo ano, em Portugal, durante uma ação de campanha eleitoral, o primeiro-ministro atualmente deposto, foi também ele atingido com tinta verde por jovens ativistas ambientais do movimento “Fim ao Fóssil até 2030”, alegando que nenhum programa político tem prevista uma transição justa nos prazos que a ciência alega, sendo necessário cortar drasticamente as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) antes que as vítimas sejamos nós.
Embora apenas pequenos danos tenham sido causados ao quadro, ao monumento e ao fato do Dr. Luís Montenegro, acreditamos que é hora de nos perguntarmos: “Quanto é demais?”
Será que precisamos realmente destruir quadros famosos em museus internacionais para defendermos ativamente o planeta do impacto causado pelas alterações no clima?
Sem destruir ou danificar qualquer património, os enfermeiros abraçaram a mesma causa de combate à crise climática através do trabalho em rede, do benchmarking e da educação das suas comunidades. Por isso, os enfermeiros são os novos embaixadores do clima.
Desde 2018 que o Conselho Internacional dos Enfermeiros (ICN) emitiu uma declaração oficial sobre o tema, onde reforça o dever da profissão para com a mitigação e a adaptação às alterações climáticas (ICN, 2018), exortando cada país a apoiar a adoção de práticas mais sustentáveis, a investigação na área, a monitorização e a vigilância em saúde pública. Só assim será possível avaliarem-se os ganhos em saúde associados a estas estratégias de combate às alterações no clima. Incitam ainda as Associações e Ordens profissionais a contribuir para planos de ação nacional, elaborando políticas que visam a saúde e a justiça ambiental e integrando nos planos de formação contínua, currículos pré e pós-graduados destes profissionais o conceito das alterações climáticas na prática da enfermagem [1].
A Health Care Without Harm (HCWH) é um exemplo de uma rede global de milhares de organizações e profissionais de saúde, como enfermeiros, que trabalham juntos para criar práticas sustentáveis no setor da saúde, que “não fazem mal aos doentes ou ao nosso planeta”[2].
O Nursing Climate Challenge (NCC) é uma das campanhas promovidas pela HCWH para usar a voz dos enfermeiros e motivar o setor de saúde para a ação climática. Esta campanha visa educar os pares sobre o impacto das alterações climáticas na saúde humana, envolver cada um deles em contextos de prestação de cuidados e partilhar soluções climáticas em cada contexto de prestação de cuidados e na comunidade [3].
Outro exemplo de ativismo climático é a Aliança de Enfermeiros para Ambientes Saudáveis (ANHE) que se uniu a esta causa desde 2008, com uma estrutura organizacional a fim de incorporar a saúde ambiental na educação, na prática, na investigação, na política e na advocacia em Enfermagem.
A ciência está, deste modo, a mostrar o papel fundamental da Enfermagem, no âmbito da Saúde Pública, no combate à crise climática, num mundo onde o sistema de cuidados de saúde é, ele próprio, responsável por 4-5% das emissões globais de GEE [4]. Por isso, os enfermeiros desempenham um papel relevante e central na educação não apenas de seus pares, em particular, mas dos cidadãos, em geral, nas suas comunidades, em todo o mundo.
Ora, ao cuidarem das suas comunidades, os enfermeiros podem e devem partilhar as suas recomendações relacionadas com o clima, mas é igualmente urgente que os enfermeiros desempenhem um papel mais ativo politicamente, participando em ações de governação local.
De acordo com o gráfico apresentado a seguir, os combustíveis fósseis e a indústria continuam a ser os únicos responsáveis por cerca de 64% do total das emissões antropogénicas de gases com efeito de estufa (GEE) para a atmosfera [5

Fonte: Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas, 2022, p. 6.
No entanto, parece imperativo que a sociedade civil, bem como outros stakeholders da ação climática, como o setor académico e o setor da saúde pública, onde os enfermeiros se integram, contribuam não apenas para mitigar o impacto das alterações climáticas, mas também para se adaptarem aos efeitos do aquecimento global [6].
Descarbonizar estilos de vida e comportamentos parece ser o maior desafio nos dias de hoje, portanto, está aberta uma janela de oportunidade para os enfermeiros contribuírem para alavancar a educação ambiental nas nossas comunidades.
Apesar de conscientes do peso que os hábitos culturais apresentam nas sociedades, os cientistas estão agora plenamente conscientes das principais causas das emissões de GEE, especificamente as originadas pela silvicultura e outros usos do solo. Então, o que pode ser feito para reverter isso? O que os enfermeiros podem fazer, especificamente? Podemos prever um novo futuro. Um futuro com enfermeiros como influenciadores neste movimento, atuando como advogados de uma causa para um planeta mais sustentável. Como?
Reduzir a pegada de carbono para níveis de neutralidade em 2050 faz parte do Acordo de Paris [7] -e os enfermeiros podem ativamente contribuir para alcançar este objetivo.
Ao ajudarmos as comunidades, nós próprios e os nossos pares, na descarbonização de estilos de vida e comportamentos, estamos a definir o melhor caminho para um futuro mais sustentável. Para isso, os enfermeiros precisam iniciar campanhas de sensibilização para dietas alternativas, mais focadas no consumo de frutas, legumes e oleaginosas, contribuindo assim para a redução do consumo de laticínios e proteínas animais, responsáveis pelo aumento das emissões de metano na atmosfera. Do mesmo modo, contribuindo para se recuperarem infraestruturas verdes nos municípios, os enfermeiros têm de advogar vidas mais saudáveis para os seus utentes, estimulando-os a utilizar espaços verdes, incentivando o uso de vias não motorizadas, mitigando a poluição, aumentando o bem-estar, reduzindo os riscos para a saúde física, mental, social e espiritual, inspirando relações mais próximas entre os cidadãos e contribuindo para uma verdadeira inovação social.
Os enfermeiros têm presentemente uma excelente oportunidade em poder utilizar a sua voz para abraçar esta causa, com vista a uma Saúde Planetária para Comunidades Resilientes ao Clima: o verdadeiro ativismo climático.
Está o conhecimento da nossa comunidade profissional, em Portugal, atualizado, nesta matéria?
O nosso grupo profissional sabe como aconselhar os utentes a encontrar, nas cidades, espaços frescos e a manterem-se em segurança, durante as ondas de calor?
Estaremos a par de que alguns medicamentos apresentam riscos de desestabilização perante condições atmosféricas extremas?
Para que possamos responder a estas e a outras questões, em Portugal, convidamo-lo a colaborar no estudo em curso, enquanto enfermeiro a exercer funções nos Cuidados de Saúde Primários urbanos, através do preenchimento do questionário seguinte:
Maria João Salvador Costa
Sempre Juntos

